No meio de tantas conversas sobre os veículos N5 houve uma que me deixou a meditar, quando alguém me disse que estava a massacrar a FPAK com as notícias que tenho publicado. Meditei sobre isso e conclui não ser necessário ninguém massacrar o orgão federativo, porque a FPAK tem-se tem autoflagelado neste tema. Querem ver porquê?

Na reunião da Comissão de Ralis de meados de Setembro os N5 foram tema de discussão agendado, com Ni Amorim a evidenciar reservas quanto à segurança destes veículos e os intervenientes a duvidarem do interesse destas viaturas no CPR ou até da existência de pilotos interessados.

Após essa reunião a APPA - Associação Portuguesa de Pilotos Automóvel estabeleceu uma série de contactos para mostrar à FPAK a validade e segurança dos N5. Elaborou um documento com os argumentos a favor, com uma lista de mais de uma dezena de pilotos interessados em correr com estes carros, e ainda com um relatório de uma verificação técnica efectuada a um N5 no Rali de Amarante Baião. Esse relatório foi elaborado por um dos mais conceituados comissários técnicos portugueses.

Este documento, que suporta em absoluto a abertura do CPR aos N5, foi concebido em poucos dias a toda a velocidade e entregue à FPAK, contrariando aquilo que parecia ser a ideia dos intervenientes na reunião de Setembro. A discussão publica que se seguiu sobre o tema, revela que os intervenientes nessa reunião provavelmente não estavam devidamente informados sobre o interesse em torno destas viaturas. Isto é sério pelo facto dos elementos presentes serem representativos dos intervenientes nos ralis, ou deveriam ser, e neste caso estiveram longe disso.

Os três parágrafos anteriores seriam situações normais em processos deste tipo se a FPAK tivesse tomado uma decisão. O problema é que já passou quase um mês sem haver decisão, e isso torna essa reunião e o documento da APPA que a contrariou como o primeiro episódio do autoflagelo. O segundo episódio é o arrastar da tomada de decisão em si, o qual deixa sempre espaço para que surjam algumas trapalhadas perfeitamente evitáveis.

O terceiro episódio desta autoflagelação aconteceu com elementos da FPAK a ligarem para pilotos que estão na lista apresentada pela APPA (e que não foi tornada publica), sugerindo-lhes que procurem outras opções para correr que não sejam os N5. Esta postura relatada por vários pilotos é estranha, tendo em conta que o tema ainda está para ser decidido.

O quarto episódio da autoflagelação passou-se com os N5 a correrem no Rali Eurocidade e a serem proibidos no Rali de Vieira do Minho, sendo provas que assentavam no mesmo regulamento técnico. No rali do passado fim de semana a situação ainda é mais caricata, porque um comissário técnico emitiu um parecer positivo à inscrição e o órgão federativo só "acordou" a três dias do rali para proibir a participação do N5 que já estava na lista de inscritos publicada há dois dias.

A FPAK acabou por explicar as razões da sua tomada de posição nos dois casos, mas até essa explicação ser-lhes solicitada pelo SportMotores.com, andamos todos "às escuras" a ver atropelos ao regulamento e ao bom senso.

Podemos ter ainda um quinto episódio de autoflagelação que seria aprovar os N5 para estes correrem apenas na Taça de Ralis (como fez com os VSH de uma forma questionável), ou até os pode aprovar mas sem pontuarem para o campeonato, ou pode ainda lembrar-se de lhes impor um restritor de 30 ou 32 milímetros como algumas almas estão a pedir. Chumbar os N5 nesta altura também me parece que seria um auto-flagelo que iria durar algum tempo.

Ponto positivo no meio desta discussão são os saldos dos veículos R5. É que alguns detractores dos N5 afirmam que há boas viaturas R5 a pouco mais de 120.000Eur e que há também viaturas dessas que se alugam por 35 Euros por quilómetro. Afirmam em privado como é óbvio.

Haveria muito mais a dizer sobre as consequências negativas para pilotos e preparadores de uma decisão tardia sobre os N5 no CPR, mas o texto já vai longo. Já agora, N5 nos regionais? Venham eles também!