Depois do esmagador domínio de Meeke em Fafe, no Algarve, até pela meteorologia e questões regulamentares, espera-se que haja um pouco mais de equilíbrio. Mas com ou sem equilíbrio, Meeke, Teodósio, Araújo e Fontes continuam a ser os únicos candidatos aos triunfos. No CPR2, depois de uma prova “sem sal” em Fafe, espera-se que com o troféu Peugeot tudo seja mais animado.

Depois de um regresso ao CPR no ano passado que não deixou grandes saudades, numa prova marcada por muita polémica, com o pó a prejudicar vários pilotos, neutralizações com consequentes atribuições de tempos pouco ou nada consensuais, espera-se que a edição 2024 do Casinos do Algarve seja bem diferente, para melhor.

A nível do pó, o Clube Automóvel do Algarve, tomou a mais que lógica decisão de dar 2 minutos de intervalo a todos os concorrentes. Apetece dizer, mais vale tarde do que nunca. A nível da estrutura, não deixa de ser incompreensível que se homologue um percurso com uma Power Stage (PS) com mais de 24 Km, isto num rali com menos de 110 km cronometrados. Ora nem no WRC as PS são tão extensas, e aí estamos a falar de provas com 300Km cronometrados. Além disso, numa prova tão curta, ter troços tão longos, pode trazer um problema, que são as neutralizações, que para além da sempre polémica atribuição de tempos, pode levar a uma prova que para alguns não seja mais do que um “rali start”.

Com uma lista de inscritos com um total de 63 inscritos, mais uma vez divulgada apenas e só na semana da prova – continuo à espera de uma explicação cabal para o facto das listas de inscritos dos ralis no continente saírem tão em cima das provas – e feita, e vão-me desculpar a expressão, “com os pés”, apenas e só por ordem numérica, quando no CPR há números fixos e como tal a lista deveria ser apresentada por categorias e prioridades. Se no mundial, os organizadores fossem os do CPR, o campeão do mundo em título, Kalle Rovanpera viria sempre nos confins das listas de inscritos! Mas também a sua apresentação denota uma total falta de brio, com concorrentes grafados com letras todas maiúsculas, enquanto a maioria, e bem, não o é. Há coisas, que mesmo se para quem manda parecem muito pouco importantes, são o reflexo do “deixa andar” que grassa muito no mundo dos ralis.

Depois destas achegas, vamos à antevisão competitiva. Se até um dos principais candidatos ao título diz que Kris Meeke é inacessível aos pilotos portugueses, poder-se-ia considerar que quanto à vitória estaria tudo resolvido. Mas atenção que os ralis são imprevisíveis e ser o mais rápido nem sempre é sinónimo de vitória. Se todos sabemos que Meeke tem andamento, mesmo se ao volante de um Rally2 que a nível do WRC e ERC não se tem mostrado, longe disso, dos mais competitivos, para ganhar com alguma margem, no Algarve, numa prova de terra que se antevê com pisos secos, terá que se haver, além de uma melhoria de andamento dos seus principais adversários (assim se espera), a desajuda de mesmo se for o mais rápido na qualificação, e com isso poder escolher uma melhor posição à partida, e porventura ser o mais rápido na sexta-feira, receber depois a “fava” de ter que passar o dia todo de sábado a abrir a estrada e a limpar o pisos para quem vem atrás. Uma regulamentação, no mínimo, estranha.

Vamos ver se isso se vai passar ou se, como já aconteceu no CPR, alguém prefere levantar um pouco o pé nos dois troços de sexta-feira para não ter que partir à frente no sábado, mas se Meeke partir à frente e se mesmo assim os seus mais directos adversários, já com pisos mais limpos, não o conseguirem acompanhar, então a afirmação de Armindo Araújo terá ainda mais razão de ser.

Santos da casa não fazem milagres, diz o ditado popular, porém isso não se tem aplicado a Ricardo Teodósio que no ano passado ganhou (com umas neutralizações e uns tempos atribuídos pelo meio) numa luta taco a taco com um dos grandes ausentes deste ano, Miguel Correia. Depois da prova para esquecer em Fafe, Ricardo Teodósio terá que em casa ter um andamento que o recoloque na luta pelo título. Vamos ver se o consegue.

Armindo Araújo, em qualquer prova (do CPR) em que participe é sempre um dos principais candidatos à vitória e se não a conseguir, em condições normais, não deverá sair do pódio. Já José Pedro Fontes num piso que não é de todo o seu favorito, mesmo assim é sempre candidato ao pódio.

Se de favoritos estamos conversados, há alguma expectativa para ver o que poderão fazer outros concorrentes, desde Pedro Meireles que teve um bom desempenho em Fafe. Pedro Almeida, no Algarve acompanhado por António Costa, já que o seu habitual navegador, Mário Castro, está ainda em recuperação de um acidente na preparação do Serras de Fafe. Mas também curiosidade para ver o andamento de Rui Madeira, acompanhado por Nuno Rodrigues da Silva – uma dupla que faz parte da (boa) história dos ralis -, de regresso ao CPR com um Ford Fiesta Rally2. Convém relembrar a sua excelente actuação no Rali de Lisboa do ano passado.

Alguma curiosidade também para ver a evolução de Ernesto Cunha (Skoda Fabia), o andamento de Paulo Neto, que esteve a bom nível em Fafe, o desempenho de Carlos Martins (Citroen C3), bem como a estreia do jovem [16 anos] Gil Membrado (Ford Fiesta).

Passando para o CPR2 – com 16 RC4 no Casinos do Algarve - depois de uma prova “sem sal” em Fafe, com um domínio avassalador de Gonçalo Henriques, agora no Algarve, onde este jovem piloto - campeão em título, convém realçar - lá conseguiu arranjar verba para participar – mal vão os ralis em Portugal quando uma jovem promessa como o piloto de Poiares não consegue apoios necessários nem para garantir uma repetição do CPR2 quanto mais para uma participação (como deveria ser) no ERC – a “chegada” do troféu Peugeot permitirá o regresso de uma maior competitividade, principalmente com Hugo Lopes e Ricardo Sousa. Mas as atenções estarão também nos jovens saídos da excelente iniciativa FPAK Júnior, Pedro Pereira e Rafael Rego, ambos em Peugeot 208.

O Casinos do Algarve conta também para o campeonato de Clássicos – apenas com 2 equipas - Promo e Start Sul, sendo que no Promo se destaca a participação do incontornável Adruzilo Lopes (Skoda Fabia N5) e do rapidíssimo lituano Martynas Samsonas (Skoda Fabia N5) que se conseguir refrear um pouco melhor os seus ânimos, mesmo partindo cá muito atrás (mesmo se ficar bem classificado na Qualificação) deverá suplantar vários Rally2.

HORÁRIO/PROGRAMA

SEXTA-FEIRA (15 março)
Partida (Parque de Assistência, em Lagoa) 14:30
PEC 1 – Lagos (6,81 km) 15:33
PEC 2 – Barão de São João (8,09 km) 15:56
Reagrupamento (Vila do Bispo) 16:41/20:02 PEC 3 – Super-Especial de Lagos (1,38 km) 21:00
Parque Fechado (Fatacil) 22:25

SÁBADO (16 março)
Partida (Parque Assistência) 09:05
PEC 4 – Silves 1 (10,20 km) 09:45
PEC 5 – São Marcos 1 (10,71 km) 10:09
PEC 6 – Messines 1 (24,10 km) 10:38
Assistência (Fatacil) 11:53/12:23
Reagrupamento (Silves) 12:43/13:33
PEC 7 – Silves 2 13:53
PEC 8 – São Marcos 2 14:17
PEC 9 – Messines 2 (Power Stage) 14:46
Final (Parque Fechado, em Portimão) 16:21

CAMPEONATO DE PORTUGAL DE RALIS
Absoluto: 1º, Kris Meeke, 28 pontos; 2º, Armindo Araújo, 22; 3º, Rúben Rodrigues, 18; 4º, José Pedro Fontes, 14; 5º, Pedro Meireles, 12; 6º, Ricardo Teodósio, 10; 7º, Paulo Neto, 8; 8º, Lucas Simões, 6; 9º, Ernesto Cunha, 4; 10º, Ricardo Filipe, 2.

2RM: 1º, Gonçalo Henriques, 28; 2º, Kevin Saraiva, 22; 3º, Pedro Silva, 18; 4º, Guilherme Meireles, 14; 5º, Jorge Carvalho, 12; 6º, Diogo Marujo, 10; 7º, Rafael Cardeira, 8; 8º, Paulo Roque, 6; 9º, Luís Caetano, 4.

Júnior: 1º, Gonçalo Henriques, 28 pontos; 2º, Kevin Saraiva, 22; 3º, Guilherme Meireles, 18; 4º, Diogo Marujo, 14; 5º, Luís Caetano, 12.