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Opinião: Uma perspetiva sobre campeões nacionais estrangeiros
Data: 18/03/2024 18:05

Tal como aconteceu o ano passado com Craig Breen, surgiu novamente a possibilidade de um piloto estrangeiro, neste caso Kris Meeke, ser campeão nacional de uma disciplina de desporto automóvel.

Para os admiradores das corridas de automóveis, isso não parece ser um problema. Estamos mais que habituados a ver pilotos a participar em competições nacionais de países que não são os seus. E até temos casos bem conhecidos de portugueses que venceram títulos nacionais fora das nossas fronteiras. Então, qual é o problema? Numa análise mais superficial, a definição sobre se um piloto estrangeiro pode ou não ser campeão nacional parece ser um preciosismo legal.

Geralmente, ou um campeonato nacional está aberto à participação de pilotos estrangeiros, ou o sistema é protecionista e simplesmente previne que pilotos de outros países possam pontuar ou roubar pontos. Não existe a ideia de que é “vencedor do campeonato nacional”, uma definição algo estranha, pois não pode afirmar ser campeão por não ser português, ainda que em termos matemáticos o piloto é mesmo campeão e no final do ano leva uma taça para casa a dizer que venceu o campeonato. Foram situações por que passaram Giovanni Salvi e Robert Giannone, vencedores de títulos nacionais em ralis e velocidade, respetivamente. A situação já não se aplica do mesmo modo a pilotos como Martin Tomczyk e Juan Cáceres, uma vez que a Fórmula BMW/Baviera era um troféu ou “série”, mas este é outro preciosismo linguístico que só temos em Portugal, já que noutros países é perfeitamente comum reconhecer o vencedor final de uma Clio Cup ou Porsche Cup como o campeão dessa temporada.

Independentemente da legislação atual proibir a discriminação contra trabalhadores, profissionais ou atletas de outros países da União Europeia, falando simplesmente em termos de reciprocidade, os pilotos portugueses beneficiaram de poder ser campeões noutros países. Pedro Lamy e Álvaro Parente foram, respetivamente, “Deutsche Meister” e “British Champion” de Fórmula 3. Mesmo em termos linguísticos, não há uma diferença entre “campeão alemão” ou “campeão da Alemanha”, e não há uma referência ao título ser “nacional”. Noutros países, quando há essa diferenciação, é porque o campeonato está aberto a pilotos estrangeiros, mas a federação local também quer premiar o melhor piloto nacional, especialmente se a participação estrangeira for regular, de dimensão considerável e competitiva.


Exemplos da história:

Existem vários casos que podemos apontar. O primeiro estrangeiro a vencer um campeonato nacional fora do seu país foi Dario Resta, cidadão britânico filho de imigrantes italianos, que foi considerado campeão americano pela Automobile Association of America, pelos seus resultados desportivos na temporada de 1916, onde se contava a vitória nas 500 Milhas de Indianapolis e na Taça Vanderbilt, dois dos eventos mais importantes do ano. Em 1936, 37 e 38, o príncipe Birabongse, mais conhecido como “Bira”, membro da família real tailandesa, foi agraciado com o título britânico do British Racing Drivers Club. E nem se tratava de ser um título aberto a súbditos do Império, pois, ao contrário dos países asiáticos circundantes, a Tailândia nunca foi colonizada por potências europeias. “Bira” foi premiado simplesmente pelos seus resultados nas pistas britânicas. A França e a Itália tinham títulos semelhantes, mas estavam reservados aos pilotos dos seus países.

Na América, como as federações são operações comerciais e nunca foram instituições de utilidade pública, os organizadores sempre puderam fazer regras à sua maneira e nunca existiu oposição a premiar estrangeiros, desde que tivessem licenças emitidas pela federação específica. Aliás, a rivalidade entre organizadores sempre foi mais problemática e afetou a participação dos próprios americanos, como o diferendo legal que opôs o piloto Paul Goldstein ao United States Auto Club, depois de ser suspenso da Indy 500 por um ano, após ter participado em provas da NASCAR em 1963.

Os britânicos também sempre foram práticos neste aspeto, como comprovado pela quantidade de estrangeiros que venceram títulos nacionais, especialmente na Fórmula 3, onde os nomes mais famosos são Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet, Ayrton Senna e Mika Hakkinen. Nos ralis, tanto Ari Vatanen como Hannu Mikkola foram campeões, e no BTCC Joachim Winkelhock, Alain Menu, Yvan Muller e Fabrizio Giovanardi nunca tiveram nenhum impedimento legal de lutar pelos títulos que vieram a conquistar.

Noutros países, existem exemplos de protecionismo. Em França, durante muitos anos, apenas os pilotos de nacionalidade francesa podiam marcar pontos e assim ser campeões. Como existiam várias corridas internacionais em solo gaulês, a federação resolveu o problema nos anos 60 e 70 estabelecendo títulos paralelos, sob a forma de “série”, como os Troféus de França de Fórmula 2 ou o Challenge Craven A para Fórmula 3, onde os estrangeiros podiam tirar partido dos seus resultados numa classificação final. Quando o Sports Car Club of America falhou em organizar uma competição profissional para Fórmula B em 1973, os pilotos americanos invadiram e dominaram o campeonato canadiano sem poder marcar pontos, mas a CASC quis tirar partido desta nova popularidade junto dos pilotos e, ao substituir a FB pela semelhante Fórmula Atlantic, transformou o seu campeonato numa competição internacional com a designação “North-American”.

A Alemanha, por seu lado, nunca se opôs à participação estrangeira, mas premiava estrangeiros conforme desse jeito. Nos monolugares, resolveu criar uma taça para premiar o melhor piloto alemão, primeiro na F3 e depois na Super V, enquanto no DRM os estrangeiros podiam roubar pontos mas só passaram a figurar nas contas do campeonato em 1976, mesmo a tempo de antecipar que o DRM se tornaria um “campeonato mundial” não-oficial para pilotos, dada a sua qualidade.

Na Austrália e na Nova Zelândia, mesmo quando os carros de turismo eram mais populares, o título nacional de pilotos sempre foi atribuído numa competição de monolugares. Neste caso, apenas pilotos dos Antípodas podiam pontuar, mas existia um título internacional, como a Tasman Series, que premiava os estrangeiros que se deslocavam aos seus países, nas provas que tinham lugar em Janeiro e Fevereiro, incluindo os Grandes Prémios da Austrália e da Nova Zelândia. O Campeonato Australiano de Turismo consagrou o canadiano Allan Moffat em quatro ocasiões, mas Moffat era residente na Austrália e tinha uma licença de competição emitida pela CAMS, a federação australiana.

Sempre que uma federação nacional viu as corridas do seu país ganharem popularidade fora das suas fronteiras, nunca foi problema encontrar uma solução para simples para deixar um estrangeiro ser campeão. O mesmo não precisa de se passar em Portugal, e não é com malabarismos linguístico-legais que se deve impedir Kris Meeke de dizer “eu sou campeão português de ralis”, se esse for o resultado final do campeonato.

Paulo Costa


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