O Conselho Mundial da FIA discutiu ontem as conclusões do Grupo de Trabalho do WRC e deu luz verde para que fossem estabelecidos planos de trabalho em função das mesmas.
No geral o que foi apresentado é positivo, mas temos de analisar em detalhe, até porque uma coisa é apresentar ideias e outra bem mais difícil é concretizá-las.
Para mim o aspeto mais relevante é o da FIA dar ênfase à parte promocional direcionada para fora da base de fãs do campeonato, criando inclusivé uma WRC Promotion Team dentro da própria FIA. Ando há anos a escrever que o problema do WRC é a falta de promoção, e portanto só posso congratular-me com isto.
Olhando para o que está proposto para os eventos é tudo muito genérico e não se consegue tirar grandes conclusões em detalhe sobre o que poderá mudar. É positivo que o formato das provas possa ser mais flexível, mas já se percebeu que querem fazer do Domingo e da PowerStage o ponto alto da prova. É muito positiva a chegada de verdadeiros parques de assistência remotos, vai finalmente permitir maior flexibilidade na escolha dos troços sem criar o absurdo se correr um dia inteiro sem assistência a 100 ou 150km do parque de assistência.
Não sei se reduzir o espaço das marcas nos parques de assistência será uma boa medida. As marcas tem os espaços nos parques de assistência para se mostrarem e para receberem aqueles que representam quem contribui para os orçamentos, no fundo como em todas as outras disciplinas do desporto automóvel.
Chegando à parte técnica vejo positiva a eliminação do sistema híbrido dos Rally1, porque não cumpriu o seu papel de atrair novos construtores e como tal era apenas um peso nos carros e um grande encargo de manutenção. Isto apesar do WRC nunca ter promovido a tecnologia híbrida que utilizou devidamente, o que teria feito a diferença nestes tempos de sensibilidade excessiva a tudo o que seja sustentável.
Criar uns Rally2 mais vitaminados para tentar chegar aos Rally1 em 2025 e 2026 é um passo arriscado, mas percebe-se que a FIA queira num curto espaço de tempo chamar a Skoda e a Citroen para o topo dos ralis por duas temporadas. O problema reside nos custos, porque se de repente a Citroen e Skoda começarem a investir nos seus Rally2 a pensar na competição com os Rally1, vamos ter um problema de custos.
O formato S2000 / R5 / Rally2 foi uma sequência de sucessos que evoluíram de forma muito positiva porque tiveram sempre os custos e o objetivo comercial em mente. Não convém estragar o conceito, porque já se viu com os WRC 1.6T ali por volta de 2010 que um carro de fábrica não serve para ser vendido a clientes num segmento inferior.
Também espero que a FIA não caia no erro de castrar excessivamente os Rally1 em 2025 e 2026 para que os Rally2+ os possam alcançar. Seria um absurdo que isso acontecesse.
Mas os absurdos existem e ver um limite de 330cv de potência para os novos Rally1 a surgir em 2027 é uma coisa que me parece completamente descabida. Quando aumenta o numero de carros de gama média nas estradas com 300cv ou mais, vamos apresentar o pináculo dos ralis, o topo da tecnologia dos ralis como sendo algo com uns carros de 330cv de potência? É com carros de 330cv que querem captar a atenção do publico generalista? Não será um bom cartão de visita para o público generalista que costuma fazer a pergunta: Quantos cavalos tem?
Fora este absurdo do limite de potência, parece-me bem manter a base regulamentar dos Rally1 em termos estruturais e simplificar a parte técnica para baixar custos. Não sei se repararem mas em termos de carroçarias permitir concept cars é abrir a porta a que equipas possam criar o seu próprio carro sem ter de derivar de um modelo de produção. Isto vai ser um mundo completamente novo.
Estabelecer um limite de 400.000Eur para os Rally1 e obrigar a que possam ser vendidos de forma simplista a privados parece-me um conceito algo ultrapassado. Isto seria possível nos anos 90, mas parece-me pouco praticável atualmemnte.
Há uma necessidade de reduzir custos, isso é factual, mas convém que se perceba onde é gasta a maior fatia do orçamento das marcas e é por aí que se deve começar a cortar. Não vi nenhuma alinea sobre os custos de desenvolvimento, que é onde as marcas gastam mais de metade dos seus orçamentos no WRC.
Agora é aguardar com espírito positivo pelos próximos passos.
|