O sistema de pontos que a FIA implementou este ano foi uma manobra arriscada, e com o avançar do campeonato isso começa a ficar dramaticamente evidente.

Não é necessário ser vidente nem ter uma bola de cristal para perceber que isto iria acontecer, pois qualquer simulação daria a entender que os pontos distribuídos poderiam ficar longe de espelhar a classificação final da prova. E isto era argumento mais que suficiente para se meditar, porque este sistema é demasiado disruptivo para ser aplicado com a celeridade que foi.

Em Monte Carlo não houve criticas, os três primeiros levaram as três melhores pontuações. Na Suécia o mais pontuado não foi o vencedor mas pouco se ouviu. No Safari a hierarquia de pontos foi similar à classificação.

Chegados à Croácia a verdadeira disrupção que é este sistema ficou bem visível. O vencedor Ogier somou 22 pontos, o 2º e o 3º classificado somaram 19 pontos, mas o 4º que foi Ott Tanak somou 20 pontos.

Mas se retirarmos os pontos da PowerStage, os dois primeiros classificados tinham 18 pontos cada um, e o 3º somava 19 pontos.

Sebastien Ogier mostrou o seu desagrado à RTBF belga ao explicar que "praticamente todos têm os mesmos pontos e isso não significa mais nada. É uma pena porque ninguém está com um sorriso no final. É um aspecto negativo, não precisávamos disto."

Ogier ainda vai mais longe ao afirmar que "as únicas mudanças que estão a acontecer vão na direção errada. Se as coisas não forem travadas rapidamente não vejo um futuro brilhante para este campeonato. Pela minha parte estou muito feliz por não estar a fazer o campeonato com um sistema de pontuação como este."

Também Jari-Matti Latvala deu a sua opinião desfavorável a este sistema, e entrevistador do site Rallit.fi comparou o sistema de pontos à social democracia onde todos recebem uma fatia e Latvala concordou, mas alertou: "se partes e desistes perdes os pontos das duas pontuações e isso é desastroso porque depois é difícil recuperar"

O responsável da Toyota Gazoo Racing WRT defende que "ganhar já não é importante, os pontos não mudam muito. Agora é uma questão de conduzir de forma regular no Sábado e Domingo. É de facto difícil conseguir pontos."

E reforça que "algo tem de ser feito neste novo sistema. Vencer tem de ter valor, o 1º lugar tem de trazer mais pontos que os restantes e isto não acontece agora. Os lugares no pódio também não são tão importantes como deveriam. Por exemplo um 4º lugar pode ser valioso e trazer muitos pontos."

O grande ganhador deste novo sistema de pontos é Ott Tanak, pelo sistema antigo teria 25 pontos no campeonato neste momento, mas com este novo sistema soma 53 pontos. Este fim de semana na Croácia Tanak somou mais pontos com o 4º lugar final do que Neuville e Evans que ficaram à sua frente.

Mas apesar dessa vantagem o estónio considera que "o sistema é uma espécie de anedota, apesar de ter salvado o nosso fim de semana. Não acredito que este sistema se mantenha por muito tempo," referiu em declarações ao site Delfi.ee.

Elfyn Evans afirmava ao Autsport.com no final do rali que foi muito intensa a luta com Neuville, "mas no final, mesmo tendo tido um mega fim-de-semana, sinto que a recompensa foi zero pela nova estrutura de pontos. O Adrien (Fourmaux) passou 15 minutos a mudar um braço de direção e conseguiu 13 pontos e nós viemos com 19 pontos e o Ott levou 20. É difícil sentir alegria e isso pode-se ver no pódio, estamos todos no mesmo barco."

Andrew Wheatley da FIA está debaixo de fogo e em declarações ao Autosport.com defendeu-se afirmando "o que foi feito parece ter atingido o objetivo (aumentar a ação nos Domingos), contudo há vários fins no espectro e temos de ver se ainda estamos a atingir o objetivo a meio ou no final da temporada."

E foi avisando que "as regras são definidas ano a ano e se quisermos mudar o sistema de pontos durante o ano teremos de ter aceitação unânime de todos os competidores revistados, e isso é muito difícil de conseguir." Convenhamos que mudar o sistema de pontos a meio da temporada seria bastante estranho.

Mas este sistema de pontos vem revelar algo que é contrário ao principio que o ajudou a criar: Penaliza fortemente quem ataca na ultima etapa e sofre um percalço, porque fica arredado dos pontos a atribuir no final, correndo o risco de levar os pilotos não atacar nos troços de Domingo, talvez com a exceção da PowerStage que vale 5 pontos. O objetivo desta mudança na estrutura de pontos era motivar as equipas a atacar mais no Domingo.