Este fim de semana arranca a temporada nacional de velocidade, tendo uma vez mais como palco o Autódromo do Estoril, e tendo uma vez mais como mote a pobreza do nosso panorama nacional.
No final da temporada passada as perspectivas pareciam animadoras, um promotor e um novo CNV e ainda muitas expectativas em relação ao Open de velocidade, com a iniciativa da Radical Portugal a poder servir de motor para o surgimento de mais participantes nesta categoria livre. Infelizmente uma vez mais tudo não passou de um “flop”, e só a esperança nos permite ver a velocidade nacional com optimismo, a mesma esperança que de há uns anos para cá é a razão de se continuar a ter corridas de pista..
No Open os Radicais correrão quase sós, mas certamente orgulhosos de uma excelente lista de inscritos onde pontificam grandes nomes lusos que militam além fronteiras, como João Barbosa, César Campaniço, Hugo Godinho, Tiago Petiz, mas aos quais se juntam alguns “volantes” nacionais de qualidade. É uma prova aguardada com elevada expectativa, quanto mais não seja porque toda a gente quer comparar o seu andamento com João Barbosa, um dos mais virtuosos pilotos nacionais do momento que veio dar mais brilho à competição promovida pela Seguradio.
Fora do Challenge Radical temos 3 carros inscritos, e aqui começa a tristeza apenas salva pelo que representam dois GT’s como o Porsche 911 GT2 conduzido por António Coimbra e o Marcos LM600 que António Nogueira irá estrear. É de crer que este ano possam surgir alguns protótipos CN, o de Carlos Rodrigues está bem encaminhado para correr, mas por agora, se não fosse a presença dos 16 Radical, teríamos uma corrida do Open desprovida de interesse.
Depois da categoria que mais atenções centra, temos aquela que continua a vegetar ano após ano: Trata-se do Campeonato Nacional de Velocidade. Pelas regras da lógica esta deveria ser a (ou uma das) categoria rainha da velocidade, e se recuarmos ao final de 2005 tudo levava a crer que poderíamos ver “a luz ao fundo do túnel”. Só que a entidade federativa continua a insistir em não investir um tostão na promoção das principais classes do automobilismo, e sem promoção não há atenção neste campeonato e os participantes não surgem. Um raciocínio que parece óbvio e vem sendo feito há anos. Para provar que este pessimismo não é resultado de nenhum delírio jornalístico, basta ler as palavras do responsável da VR2 Motorsport ou de Vitor Mateus.
No actual estado de coisas, e com um regulamento muito mais abrangente, acabamos por ter os mesmos carros e mais alguns habitués como principais protagonistas. Os Honda Civic de Miguel Freitas e Vitor Mateus terão na armada de Renaults Clio os seus opositores de onde se destacam João Pina Cardoso, Francisco Carvalho e Nuno Batista. Apenas 8 inscritos está longe de ser um número que se considere aceitável para corridas, quanto mais para o Campeonato Nacional de Velocidade.
Os seguintes são os clássicos, a categoria que poderia ser aquela onde os aficcionados deste tipo de automóveis aproveitaria o fim de semana de corridas para fazer o gosto ao pé, mas quem se tem revelado como a categoria onde se conseguem grelhas mais preenchidas, e o Circuito ACDME 1 não é excepção.
Um lista de 32 inscritos nas principais classes, onde se incluem os participantes na Taça 1300, competição singular no automobilismo que vai revelando um dinamismo invulgar imposto pelos próprios participantes, ao ponto de até apresentar a GalpEnergia como patrocinador da competição. Três protótipos – Ribeirinho Soares, Carlos Barbot e Daniel Vidal – que poderão ter de enfrentar um habitualmente aguerrido Joaquim Jorge e António Nogueira com os seus Ford Escort RS, são os nomes que destacam.
Por último temos a Honda BPI Cup, o único troféu monomarca em que a competição ainda é o ponto forte e quem tripula os Honda Civic Type R é algo mais que figurantes VIP ou pilotos para abrilhantar. Francisco Sande e Castro poderá ter uma boa colheita este ano, já que para o Circuito ACDME 1 conseguiu reunir 12 inscritos na Honda BPI Cup e 15 na corrida da Honda BPI Cup Promoção. Melhor que em 2005.
Por ultimo, em relação a esta jornada de velocidade, só falta falar de algo que tem vindo a ser sistematicamente debatido: a promoção das provas. Não havendo promotor oficial na velocidade – no final de 2005 até existiram 2 interessados mas o ano de 2006 começou sem nenhum – é da exclusiva responsabilidade das organizações promoverem as corridas que organizam. No entanto seria interessante que as pessoas se colocassem na pele da ACDME, do MCE ou do CAM. Com um panorama de velocidade paupérrimo e que aparenta não ter rumo, valerá a pena investir numa campanha promocional? A pergunta fica, até porque o problema não está só na falta de promoção dos clubes. No entanto não podemos deixar passar em vão o facto do horário do Circuito ACDME 1 ocupar todo o dia de Sábado e apenas a manhã de Domingo. Se o panorama não é atractivo, com este horário menos se poderá tornar.
Em resumo, temos um fim de semana de corridas com sentimentos mistos. Um fim de semana triste pelo programa e pelas competições, mas que acaba por apresentar alguns nomes interessantes e com elevada qualidade, e grande parte da responsabilidade dessa qualidade é do Radical Challenge. Só que ter um troféu como o previsível ponto alto de um fim de semana de velocidade, não é o desejável, ainda que esse troféu seja feito de rapidíssimos protótipos.
Melhores dias virão, a esperança é a última a morrer, e na velocidade leve uma vida bem longa.
- Link ao aditamento nº 1 - Horário do Circuito ACDME 1
Actualizado às 12.34 de 24/03/2006
